domingo, 19 de fevereiro de 2017

Tributo a João Aguardela - Report


Tributo a João Aguardela - 17 de Fevereiro
S. Domingos de Rana - ICMAV
Texto de Maria Miguel Marques
Fotos de Philipe Coutinho
Creio que já é do conhecimento de todos, mas nunca é demais relembrar que este blog nasceu como homenagem à "estrela cadente musical" João Aguardela, homem que nunca deixou de me encantar como pessoa e músico genial que era.
Imaginem agora a alegria e o orgulho que sinto, ao estar a publicar a reportagem da Maria Miguel que, na impossibilidade de eu estar lá pessoalmente, conseguiu pôr-me lá.
Sem mais delongas, fiquem com as palavras e as imagens dela.

 Para quem passou na Estrada de Polima nesta sexta-feira à noite, certamente pensou que um bando de loucos barrava a entrada às pessoas no ICMAV, só porque sim. Na verdade, não era um bando de loucos mas sim de artistas. Nuno Paulino e a artelier? companhia de teatro de rua criaram a “Ó-brigada Sitiados” para receber a família e os amigos de João Aguardela, num tributo ao músico e a Sitiados. A entrada só era permitida se fizessem a saudação obrigatória, e de seguida era entregue um “poema”, enquanto as paredes dos edifícios se enchiam de vídeos com os diversos elementos a declamar letras de Sitiados. A noite era, obrigatoriamente, de festa.
 A sala estava cheia e o ambiente era um misto de festa e emoção, ou não fosse a noite em que todos recordámos o amigo, o artista, e a mítica banda responsável pelo hino dos anos 90, “A Vida de Marinheiro.” Muitos reencontraram amigos de estrada, de longa data; amigos dos copos ou pessoas que conheciam de vista.  Outros aproveitaram para relembrar as caras que fizeram parte da sua vida. O tributo não começou, sem antes a representante da Junta de Freguesia de São Domingos de Rana e José Manuel, pai de João Miguel Aguardela, dizerem algumas palavras de agradecimento a todos os que estavam presentes e aos que participaram na criação e divulgação deste evento.
 Os primeiros a subir ao palco foram Francisco Resende e Mitó Mendes, guitarrista da formação inicial de Sitiados e a voz d’ “A Naifa”, respectivamente. De xaile nos ombros e num ambiente intimista, apresentaram a primeira música, “Fado da Traição”. Ao longo da música, Samuel Palitos, na bateria, Mário Miranda, no baixo e Rodrigo Dias na guitarra acústica foram subindo ao palco, para logo de seguida darem início ao segundo tema, “Amanhã”. Francisco Resende não deixou de dizer as suas palavras em nome de todos os participantes, destacando a coragem de Gabriela, José e Pedro, os pais e irmão de João Aguardela, e também a dos pais de Fernando Fonseca, o primeiro baterista de Sitiados, que nos deixou em 2015. Frisou ainda que era por João Aguardela e Fernando Fonseca que estavam ali, nesta sexta-feira de festa. O último tema interpretado por Mitó foi “Os Dias Sem Ti”, a música em que entra Sandra Baptista, a mulher de Sitiados e o “acordeão com pernas”, nome pelo qual era conhecida nos anos em que pisou os palcos com o seu acordeão.
 O segundo artista a subir ao palco foi Paulo Costa, dos Ritual Tejo, que deu voz a “Junto Ao Rio”. Ao palco subiram também Jorge Buco, o homem do bandolim assombrado, e os metais compostos por João Marques, no trompete, Jorge Ribeiro, no trombone, e João Cabrita, no saxofone.

Paulo deu também voz a uma música de Sitiados nunca editado: Só. Mais tarde tirou o seu casaco e disse “acho que já sabem qual é a música que aí vem.” Na sua t-shirt lia-se “Puta de Vida”, tema que nos relembra que todos os nossos dias são a trabalhar, e que a vida não nos deixa bailar. O público acompanhou a letra e nunca deixou a festa parar. A última música que Paulo Costa interpretou foi “E Agora?”, e quando os acordes começaram a surgir os homens dos metais deram uns passinhos de dança, coisa habitual nos concertos de Sitiados.
 Viviane, a voz dos Entreaspas, foi a terceira voz escolhida. Para começar, e bem, “Rebuçados” levou-nos atrás no tempo e até se ajoelhou para interpretar a célebre frase “E então somos pobres”, sempre acompanhada pela banda, e claro, pelo público que até então, não tinha deixado de cantar. Acompanhada por Francisco Resende, Mário Miranda e Samuel Palitos cantou “E Ela Cega”, cuja interpretação deu uma nova vida à música. “Soldado” foi a última música a que Viviane deu voz acompanhada por Francisco Resende e Sandra Baptista.
 Ricardo Alexandre, jornalista e autor da biografia de João Aguardela, “João Aguardela – Esta Vida de Marinheiro”, marcou presença no palco ao ler um excerto do seu livro. Antes de apresentar o artista que se seguiu, frisou que sempre foi difícil fazer entrevistas a João “porque ele tinha sempre coisas mais interessantes para fazer.”
 Rui Duarte, o metaleiro português dos RAMP, foi a voz que se seguiu. Ao entrar em palco disse “quero dedicar isto ao João e dizer-lhe que esta noite, tem outro parvo no lugar dele”, e estava apresentada a primeira música de Rui. Com Mitó Mendes e Mário Miranda nos coros, e sempre com o público a acompanhar, a noite de festa nunca perdia o ritmo. Além deste tema, Rui cantou ainda “Abril” e “Euphoria”, outra música nunca editada e dedicada a todos que iam conduzir para casa. Mas nem isso impediu o público de acompanhar a letra. Rui Duarte fez questão de puxar pelos amigos e curiosos que se juntaram para este tributo, para nunca perderem o ritmo. A sua última música foi “Pérola Negra” – uma das minhas músicas de eleição, diga-se de passagem – e o ambiente era, nitidamente, de alegria. Era impossível não ficar contagiado com a emoção e felicidade transmitida pela própria banda.

A última voz foi Paulo Riço, que começou com “Amor É”, seguindo-se “Será Que Ela Vem”, do último álbum de Sitiados. “O Circo” foi a música seguinte e era impossível parar. Nuno Paulino distribuiu narizes ao público, foram espalhados confetis, e a festa estava feita. Não havia como ficar indiferente a este espectáculo. O esquecimento da letra da parte de Paulo Riço passou despercebido ao público que estava incansável – a alegria, a dança e a emoção misturavam-se numa harmonia perfeita, e todos os que relembraram os grandes êxitos de Sitiados contagiaram os que pela primeira vez, assistiam a um espectáculo da banda que marcou os anos 90.
Samuel Palitos ajudou os mais esquecidos do público ao cantar connosco, e permitiu que a festa nunca parasse. “A Cabana do Pai Tomás” foi o último tema interpretado pelo vocalista dos Essa Entente.
 Para surpresa do público, Tim, o vocalista de Xutos e Pontapés, subiu ao palco para interpretar “A Noite”, tema que celebrizou com os Resistência. O momento único permitiu ao público cantar com Tim, sem nunca dar descanso à voz.
Para fechar a noite, Sandra Baptista chamou ao palco João Marques, antigo baixista dos Sitiados, os pais e o irmão de João Aguardela, Ricardo Alexandre, os músicos, os roadies e os técnicos que ajudaram na realização do tributo, os representantes da Junta de Freguesia de São Domingos de Rana, e Nuno Paulino para acompanharem Rui Duarte e a banda com o célebre tema “A Vida de Marinheiro.”


Enquanto a música acabava, e os presentes em cima do palco iam trocando impressões, os ecrãs que acompanharam o tributo do início ao fim com fotografias de João Aguardela e de Sitiados, passavam agora o vídeo d’“A Vida de Marinheiro” no Pavilhão Carlos Lopes em 1993.
A noite foi sem dúvida recheada de emoção, e serviu para voltar atrás no tempo e relembrar os temas que fizeram parte da vida de todos nós. A alegria constante marcou a noite de 17 de Fevereiro, e permitiu que todos fossem para casa de coração cheio.
Eu, trago para casa uma noite cheia de boas recordações, sendo esta a primeira vez (que me lembro) que vi Sitiados ao vivo. Não é, claramente, a mesma coisa, mas é sempre bom ver (e ouvir) as pessoas e as músicas que acompanharam a minha infância e o meu crescimento. Levo ainda uma herança única e da qual me orgulho muito, ou não fossem os Sitiados a família que o meu pai escolheu para me acompanharem para a vida.
Maria Miguel Marques

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