segunda-feira, 18 de abril de 2011

At Freddy's House - Windows and Curtains

"Windows and Curtains" é o primeiro single de avanço para o próximo álbum de At Freddy's House, "09 Roads" que há-de sair em Setembro.
 A letra é lindíssima e mais uma vez, foi escrita pela Susana Noronha, que explica nas suas próprias palavras o significado da mesma. Não é meu hábito publicar um press release sem o pôr por palavras minhas, mas este texto está tão bem escrito que seria um sacrilégio, acrescentar ou tirar alguma coisa.
Leiam o texto primeiro e depois vejam o também belíssimo video, realizado por Luís Belo:

A história de "Windows and Curtains" deixa-nos espreitar e ouvir uma personagem...idosa, sentada numa cadeira. Esta é uma imagem que se repete por detrás das portas e paredes dos lugares onde não entramos. Mulheres e homens envelhecidos, sozinhos, incapazes de andar ou sair de casa. Ninguém os vê, mas eles observam o mundo lá fora, a rua e as suas gentes através dos vidros finos da sua janela. As cortinas, inversamente, escondem as suas vidas, rostos e pequenos movimentos, por detrás da sua grossura. A letra é dita e escrita imaginando o olhar e a voz da pessoa sentada.

A personagem fala-nos da idade avançada da sua alma, já fantasma, habitando um corpo enrijecido como um casaco de madeira e balançando-se na cadeira da sala de estar de uma casa vazia, ao lado de uma janela. Por detrás do vidro, a solidão fragiliza e dá medo. O medo de cair ou quebrar uma parte que não pode ser curada, sem nada ou ninguém que nos ajude a levantar. Quem vive só, tem de proteger e endurecer os ossos. Quem vive só, tem de endurecer as "partes moles" das emoções para que nada lhe quebre o coração. Quem não sente tristeza, dor, falta ou saudade da presença das palavras e dos gestos dos outros pode e consegue morrer sozinho.

Se tivesse a possibilidade de se levantar e caminhar uma vez mais, com certeza agarrava num qualquer par de sapatos e num casaco gasto e correria, balançando-se e dançando como as flores que ladeiam a terra das estradas campestres. Afinal, um coração que ainda bate precisa do sol, da chuva e do “fogo” que alastra as sensações de uma vida breve. Um coração que ainda bate quer e sente a carga libertadora e estonteante de tudo aquilo que está lá fora e nos atravessa o corpo. Mas a idade que prende as pernas e o corpo à cadeira é um peso que não pode ser levantado. Só lhe resta esperar e ficar sentada. Afinal, cadeiras com pernas não andam! Ali, longe da porta, fica o desejo, cada vez menor e maior, de encontrar um meio e uma forma para sair de casa.

Texto de Susana de Noronha


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